Autor do artigo: Dr. Gabriel Veber
Nos últimos anos, o consumo de tadalafila, um medicamento originalmente desenvolvido para tratar disfunção erétil e hiperplasia prostática benigna, disparou no Brasil. Segundo a Anvisa, o remédio já é o terceiro mais vendido do país, atrás apenas da losartana e da metformina. Mas a alta demanda não vem apenas de pacientes com indicação médica: cresce cada vez mais o uso off-label e recreacional, especialmente entre jovens e frequentadores de academias.
Se há alguns anos os inibidores da 5-fosfodiesterase (5-PDE) eram usados quase exclusivamente para tratar impotência, hoje a tadalafila se popularizou como um “turbinador” da performance física e sexual. A promessa? Melhor vascularização, ereções mais firmes e até ganho muscular acelerado. Mas até que ponto esses efeitos são reais?
A ciência por trás (e os riscos por trás da ciência)
A base do uso da tadalafila no pré-treino vem da sua ação vasodilatadora: o medicamento relaxa os vasos sanguíneos, aumentando o fluxo de sangue para os tecidos. No contexto médico, isso significa melhora na ereção e redução da sobrecarga cardíaca. No contexto das academias, a teoria é que essa maior circulação sanguínea levaria a um “pump” muscular mais intenso e recuperação mais rápida.
O problema é que não há qualquer comprovação científica robusta de que o uso de tadalafila melhora a hipertrofia ou o desempenho atlético. Pelo contrário, os riscos podem ser consideráveis:
• Efeitos colaterais. Dores de cabeça, tontura, queda de pressão e taquicardia podem comprometer o rendimento no treino.
• Uso descontrolado. Sem orientação médica, a automedicação pode mascarar problemas cardiovasculares e levar a complicações sérias.
• Mistura perigosa. O uso combinado com outras substâncias, como pré-treinos estimulantes e anabolizantes, pode sobrecarregar o sistema cardiovascular.
Tadalafila e a nova cultura do “desempenho perfeito”
O aumento da popularidade da tadalafila também reflete um fenômeno mais amplo: a obsessão por performance. Homens cada vez mais jovens buscam potenciais “atalhos” para maximizar tanto o físico quanto a vida sexual. O problema é que a solução rápida pode gerar efeitos colaterais a longo prazo – tanto na saúde quanto na autoestima, alerta o médico.
Muitos desses usuários sequer apresentam disfunção erétil, mas usam o medicamento como um “seguro” contra falhas eventuais, criando um ciclo de dependência psicológica. Quando associada à pressão estética e à expectativa irreal de desempenho sexual infalível, essa prática pode gerar ansiedade e disfunções sexuais secundárias.
Precisamos falar sobre saúde, não apenas sobre desempenho
O crescimento do uso recreacional da tadalafila expõe uma questão fundamental: a forma como os homens lidam com sua própria saúde. Ou seja, a mesma cultura que normaliza o uso indiscriminado de medicamentos para melhorar a aparência e o desempenho muitas vezes ignora aspectos essenciais, como hábitos de vida, saúde mental e exames preventivos.
A medicina moderna precisa encarar a saúde masculina de forma integrada. Ao invés de simplesmente buscar soluções rápidas, é preciso discutir o que está por trás dessa busca incessante por performance – e oferecer alternativas mais seguras e eficazes para alcançar bem-estar e qualidade de vida real.
Porque, no fim das contas, o que faz um homem se sentir mais confiante e satisfeito não é um remédio milagroso, mas o equilíbrio entre corpo, mente e saúde genuína.