Robótica e próstata: futuro para todos?

Artigo do dr. Daniel Freitas*, originalmente publicado em
Jornal do Comércio impresso e no site, em 26 de novembro

Até pouco tempo, operar a próstata com a ajuda de um robô parecia algo futurista. Hoje, essa tecnologia é uma realidade em um bom número de hospitais brasileiros, e vem mudando a maneira de tratar o câncer no País. Além de representar um salto técnico, simboliza uma nova era da medicina, em que a precisão e a segurança caminham lado a lado com o cuidado humanizado. 

Em outubro, a Conitec – comissão que avalia novas tecnologias para o SUS – aprovou a incorporação da cirurgia robótica para o tratamento do câncer de próstata localizado. Pouco se sabe ainda sobre a forma com que essa tecnologia, que é cara, será viabilizada para os pacientes de hospitais públicos. Porém, não deixa de ser um marco importante, pois demonstra uma clara intenção de democratizar uma técnica que hoje é restrita a poucos homens.

Na cirurgia robótica, o médico controla braços mecânicos com precisão milimétrica, por meio de uma câmera de alta definição e movimentos filtrados de tremores. O robô não opera sozinho, obviamente. Ele apenas amplifica a destreza humana. O resultado costuma ser incisões menores, sangramento reduzido e menos dor, levando, consequentemente, a uma recuperação mais rápida – vantagens comprovadas em
milhares de pacientes que já foram operados até hoje ao redor do mundo. Além disso, há ganhos na preservação das funções urinárias e sexuais, o que impacta diretamente na qualidade de vida após o tratamento.

Trata-se, portanto, de uma útil iniciativa em busca do avanço da saúde masculina no Brasil. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa de novos casos de câncer de próstata, para 2025, é de 71.730, sendo este o tumor mais frequente entre os homens – boa parte são diagnosticados tardiamente. No Rio Grande do Sul, as estatísticas apontam para 3.500 novos homens diagnosticados por ano.

Mas é também importante destacar que, quando o cuidado chega cedo – e com qualidade –, a chance de cura é altíssima: acima de 90%. Por isso, o Novembro Azul não deve ser apenas sobre examinar a próstata, e sim sobre atitude. De nada adianta um robô no centro cirúrgico se o homem não chegar ao consultório. A incorporação da cirurgia robótica ao SUS é uma boa notícia, mas o verdadeiro salto ainda depende de um gesto tão simples como agendar uma consulta.

Sobre o dr. Daniel Freitas

Daniel Freitas é urologista e um dos fundadores da Andrologia Moinhos, em Porto Alegre (RS). Atua também como professor da Escola Superior de Urologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e como preceptor da residência médica em Urologia na Santa Casa de Porto Alegre.

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